Este artigo é parte de uma série sobre a queda nas taxas de juros e as opções para garantir uma boa rentabilidade para nossos investimentos. No fim do texto você encontra links para todos os artigos anteriores dessa série.
O que é um ETF?
Com a recente queda das taxas de juros, que atingiram o mínimo histórico de 6,5% ao ano, os investimentos em renda fixam passaram a render pouco, como já vimos em textos anteriores. Com isso, uma saída para quem busca rendimentos maiores é investir em ações. Mas muitas dessas pessoas não sabem por onde começar. Se esse é seu caso, este artigo foi feito especialmente para você.
Indo direto ao ponto: o melhor que você pode fazer para começar a investir em ações é comprar um ETF.
ETF é uma sigla em inglês para Exchange Traded Fund, que pode ser traduzido como Fundo Negociado em Bolsa. No Brasil há alguns ETFs, chamados assim mesmo, com a sigla em inglês.
Basicamente, os ETFs que temos no Brasil são fundos de índices. Isso significa que eles seguem algum índice que mede o desempenho do mercado acionário. O principal é o Ibovespa, da Bolsa de Valores de São Paulo. Os ETFs que o seguem mais conhecidos são o Ishares Ibovespa Fundo de índice (conhecido pelo código BOVA11) e o IT Now Ibovespa Fundo de Índice (BOVV11). Outro índice importante é o índice Brasil, ou IBrX-100, das 100 principais ações da Bolsa brasileira. O principal ETF que segue esse índice é o Ishares IBRX – Índice Brasil Fundo de índice (BRAX11).
Ainda há ETFs que seguem índices específicos, como os de empresas que pagam altos dividendos, de empresas com alto nível de governança corporativa, de empresas com baixo valor de mercado (small caps) e diversos outros. Neste artigo, vamos nos concentrar nos principais, que seguem o Ibovespa ou o IBrX-100.
Reduzindo risco com diversificação
No artigo anterior desta série explicamos como o tempo pode reduzir brutalmente o risco do investimento em ações, tornando a relação risco x retorno muito atraente em investimentos de longo prazo. Mas, além do tempo, outra forma interessante de reduzir riscos nesse mercado é com a diversificação.
Se você compra ações de uma única empresa, pode se dar muito bem, caso ela suba, ou muito mal, e até perder tudo, caso a empresa vá à falência. Agora, se investe em um portfólio diversificado (vamos dizer, de 10 ações), seu risco fica diluído. Pode até ser que uma das empresas vá à falência. Mas como ela é apenas uma em dez, o prejuízo é limitado e deve ser compensado pelo resultado positivo que as outras ações vão gerar, de modo que seu investimento como um todo renda bem.
A questão é que a diversificação tem custos associados a sua execução. Em primeiro lugar, para diversificar você precisa encontrar diversas empresas para investir. Isso gera trabalho, de analisar dezenas (até centenas) de empresas, para encontrar algumas que você julgue promissoras. E, depois de investir, é necessário acompanhar trimestralmente os resultados.
Também há um custo financeiro, já que toda vez que você compra ou vende uma ação paga taxas de corretagem e emolumentos. Assim, quanto mais ações incluir na carteira para aumentar a diversificação, maior será seu custo.
E isso pode ser um fator limitante para os pequenos investidores. Como você quer que o custo de investir em ações seja baixo (na Ohr recomendamos que o custo de uma transação nunca seja maior do que 0,5% do seu valor), muitas vezes precisa de grande capital para investir em uma carteira diversificada. Por exemplo, se você utiliza uma corretora que cobra R$ 20 por transação, o ideal é que cada compra seja de pelo menos R$ 4.000. Então, para montar uma carteira com 10 ações, é necessário investir um mínimo de R$ 40.000, algo inacessível ao pequeno investidor.
Uma das grandes vantagens de investir em ETFs é justamente a diversificação. Um ETF que segue o Ibovespa é um fundo diversificado que investe em 64 ações (o índice é composto por essa quantidade de ações atualmente). Os ETFs do IBrX-100 são ainda mais diversificados, investindo nas 100 ações que compõem a carteira do índice. E investir em ETFs é extremamente acessível: em alguns casos, é possível fazê-lo com menos de R$ 1.000.
ETF x Fundos de ações
Outra forma acessível a pequenos investidores de diversificar suas carteiras é por meio de fundos de investimentos em ações. A maioria dos fundos também tem carteiras diversificadas, e muitos exigem investimentos mínimos, de R$ 1.000 ou menos. Mas também há fundos com investimento mínimo de R$ 1 milhão.
A grande diferença entre investir em fundos e em ETFs é que os segundos têm uma gestão passiva. Basicamente, quando você investe em um ETF, o gestor não tem o trabalho de pensar e pesquisar as melhores ações: ele simplesmente segue a carteira do índice, de forma passiva, e obtém o resultado da média do mercado (o índice que ele replica no fundo). Já os fundos de ação têm como objetivo superar algum índice de mercado (geralmente o Ibovespa). Isso significa que eles têm um gestor e uma equipe buscando as melhores oportunidades 24 horas por dia.
Aparentemente, escolher um fundo de ações é muito melhor. Afinal, você não quer ser um cara na média; você quer e merece ter resultados acima dos indicadores. Mas saiba: nem sempre o que os gestores pretendem fazer eles conseguem. Alguns, sim, mas outros, não.
Apesar de a estratégia ativa de fundos de ações parecer mais atraente, ela tem um custo bem diferente do da gestão passiva. Como o gestor de um ETF não precisa pensar nem ter uma equipe grande e cara buscando as melhores oportunidades, eles costumam cobrar uma taxa de administração baixa. O BRAX11 cobra apenas 0,2% ao ano, o BOVV11 0,3%, e o BOVA11 0,54%. Fundos de ações, com estratégias ativas, cobram muito mais do que isso, para remunerar seus custos com uma equipe de gestão bem paga. A taxa média gira em torno de 2% ao ano, mas em alguns casos pode superar 4%.
Curioso para saber qual é a melhor opção? A gestão passiva, que quer ficar na média com um custo baixo, ou a ativa, que busca superar a média do mercado, mas com custo mais elevado? A tabela abaixo mostra os resultados das duas opções, a longo prazo.
Em um período de 15 anos, entre 2001 e 2015, de 151 fundos de ações analisados, apenas 27 (18% do total) conseguiram superar o IBrX-100 no período. A maioria (82%) perdeu do IBrX-100 a longo prazo. Ou seja, a estratégia passiva, que a princípio parece pouco interessante, tem seu valor.
A conclusão a que podemos chegar ao analisar essa tabela é que a maioria dos gestores de fundos faz um trabalho ruim, não sendo capaz de superar os principais indicadores do mercado. Uma parte da explicação vem de incompetência. Em um mercado competitivo, como é o acionário, boa parte dos investidores tem um resultado abaixo da média. Na teoria, metade dos investidores deveria ter resultados abaixo da média e a outra metade acima da média — isso porque os indicadores (Ibovespa e IBrX) buscam representar justamente a média de retorno do mercado.
Se escolhas ruins explicam uma parte do fracasso de mais da metade dos fundos em superar o IBrX-100, a outra parte se deve ao custo de taxa de administração desses fundos. Imagine que um gestor faz um trabalho na média: não é brilhante para conseguir superar o IBrX-100, mas também não é ruim a ponto de ficar abaixo dele. Embora o resultado seja medíocre, o que ele entrega para o investidor não é o resultado bruto que obteve, mas o líquido dos custos de taxa de administração que os quotistas do fundo lhe pagam. Assim, imaginando um período em que o IBrX-100 gera um retorno de 12% ao ano, um fundo que obtenha o mesmo resultado de 12% ao ano, mas que cobre uma taxa de administração de 2%, vai entregar de fato um retorno de 10% para os quotistas. Já um ETF que cobra apenas 0,2% de taxa deve entregar aos investidores um retorno de 11,8%.
Embora a estratégia passiva pareça ruim ou até um contrassenso, na prática ela se mostra muito interessante. De certa forma, investir em ETFs é abrir mão da possibilidade de obter um retorno acima da média, para evitar o risco de obter um retorno abaixo dela. Pode não parecer grande coisa, mas obter o resultado da média do mercado (o resultado dos índices) proporciona um resultado melhor do que o obtido pela maioria dos investidores (amadores e também profissionais). O investimento em fundos de ações só vale a pena se o gestor for capaz de superar os indicadores de mercado por uma margem maior do que seu custo com taxas de administração.
O que quero que você saiba é que a estratégia passiva, de investir em ETFs, é ótima para começar. Mas também é importante saber que existe uma quantidade pequena, porém significativa, de fundos que têm superado as médias do mercado com consistência. Na Ohr conseguimos identificar características desses fundos. Nossas carteiras recomendadas estão recheadas com diversos fundos que, ao longo dos anos, têm superado com folga o Ibovespa e o IBrX-100, e esperamos que esse desempenho se repita no futuro. Se você quer investir em ações e obter um desempenho acima da média, sugiro que assine os nossos relatórios. Eles são acessíveis para pequenos investidores, com custos a partir de R$ 9,90 por mês.
Mas, se você quiser investir sem seguir nossas recomendações, saiba que os ETFs são uma ótima opção e que qualquer investimento em ações que não seja feito neles só faz sentido se você tiver grande convicção de que ele trará um retorno acima dos principais indicadores. Na dúvida, opte sempre pelo bom resultado garantido dos ETFs. Aqueles que tentam ser espertos e superar o mercado têm grande risco de não conseguirem isso - e, pior, obterem resultados abaixo da média.
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O investimento em ETFs é algo muito comum nos EUA, onde o mercado é muito mais desenvolvido do que no Brasil. Se você deseja conhecer mais sobre ETFs, sugiro que leia o livro The Little Book of Common Sense Investing, de John Bogle (disponível apenas em inglês). Bogle é o fundador da Vanguard Group e o pioneiro no investimento em ETFs. O livro é ótimo (se não fosse, eu não recomendaria), mas vale a ressalva para que você faça uma leitura crítica. Bogle escreve sobre o mercado norte-americano, de modo que nem tudo se adapta ao Brasil. Além disso, a Vanguard gere mundialmente fundos com um patrimônio de incríveis US$ 5,1 trilhões, a maior parte em ETFs. Ou seja, ele tem grande interesse em convencer as pessoas a investirem nesses fundos.
Artigos anteriores desta série:
1 - O fim da renda fixa (como você conhece)
2 - O brasileiro é viciado em renda fixa
3 - Invista como um milionário
4 - Como ganhar na Bolsa sem saber quando ela vai subir ou cair?
5 - O retorno do investimento em ações compensa?